Ontem, nossa Macondo foi atingida por uma súbita falta de energia. De início os mais jovens, geração da internet e Tv a cabo, pareciam ter ficado um pouco desnorteados, olhando a tela do computador ou televisão como se eles tivessem vida própria, como se eles pudessem voltar a funcionar mesmo sem energia, sempre tão solícitos aos seus comandos, compartilhando emoções em bytes, não poderiam deixá-los sós, nesse mundo. Assim aconteceu, e aqueles meninos viram-se sós.
Não havia outra alternativa. Foram aos poucos aproximando-se daqueles com que conviviam, tentando entender um mundo pouco conhecido, um mundo novo, sem bytes, sem controle e que necessariamente são movidos por outras energias.
A cidade, silenciou.
Enquanto a tarde caía, alguns corpos já se movimentavam em direção a outros, procurando abrigo para uma provável noite sem energia. Outros, ainda reticentes, esses ainda mais jovens, tentavam buscar guarida nas sobras das baterias dos celulares.
A noite chegou, a cidade permanecia sem energia, as últimas baterias já sinalizavam descanso e a hora do encontro havia chegado.
Famílias, unidas pela falta de energia.
O encontro ao redor do fogo, o silêncio das máquinas e o desejo de ser percebido movimentaram a escuridão. Os velhos puderam, enfim, contar a história que sempre ficara pela metade, o jogo, o dado e as cartas caíram suavemente sobre as mesas, tonalizando aquelas faces que mal se olhavam. A sombra deu um espectro fantástico àquele encontro e algumas vozes e conversas puderam finalmente serem ouvidas e completadas sem aquela habitual parada para atender a uma mensagem virtual. Era um mundo novo ou talvez esquecido que se abriu na noite.

O tempo, para alguns que estavam ali, passava muito rápido, o encontro daqueles que conviviam e partilhavam o espaço não devia ser um evento esporádico. A energia não voltou e os corpos cansados de conversas e afagos dormiram.
A cidade acorda. Foram sonhos diferentes.
Por Gerd Baggenstoss